LABINAC – O que sempre fizemos é uma exposição que acontece em dois espaços muito diferentes, onde esses objetos tão especiais são colocados em relação e fricção com contextos que permitem leituras diferentes deles. Na Casa Zalszupin, o diálogo é principalmente com objetos produzidos pelo próprio arquiteto e designer, e com um ambiente doméstico, familiar apesar de, evidentemente, extraordinário. Já na Galeria Jaqueline Martins, no espaço relativamente asséptico de uma galeria de arte, a conversa principal é com obras em que aparecem, muitas vezes no fundo da cena, ‘uma cadeira, uma mesa, uma lâmpada, um vaso’, isto é, objetos para os quais geralmente não olhamos, ou que consideramos apenas “mobiliário”.
Em 1917, Erik Satie introduziu uma expressão até então quase inconcebível: musique d’ameublement [música mobiliário, ou furniture music na tradução inglesa, que se tornaria mais conhecida internacionalmente]. Essas composições eram concebidas para serem tocadas ao vivo em contextos diversos e não convencionais, onde Satie esperava que o público não prestasse atenção, e que a música pudesse ser ouvida como um fundo, como algo que apenas existe, como um móvel. De certo ponto de vista, o experimento foi um fracasso, as pessoas paravam para prestar atenção. Talvez haja algum tipo de lição aí, que passa pela importância de reparar nas coisas que por muito tempo não víamos, deixar de usar expressões que por muito tempo usamos, entender que o que está ao nosso redor, mesmo quando invisível, nunca é neutro, sempre carrega mensagens e significados potentes.
Esse texto iniciava com a pergunta estereotipada do visitante perplexo na frente de uma obra de arte contemporânea: “Isso é arte?”. Faz sentido que termine invertendo a pergunta: “Isso é mobiliário?”
JACOPO CRIVELLI VISCONTI