Fábrica mágica ETEL
A produção da ETEL em Valinhos convive com macacos, passarinhos, árvores e pétalas caídas no caminho..
Com marcador de pontos em madeira certificada. Um luxo.
Uma fábrica silenciosa, iluminada por feixes que chegam através de janelas altas. Nas bancadas dos marceneiros, nomes, pessoas. Fitinha do Bonfim, time de futebol, super-herói preferido. Ou simplesmente uma pequena estrela. Apetrechos, muitos.
Martelo, óculos, lixa, trena, desenhos.
A madeira é soberana. Tem o período de descanso, prensa, encaixe, acabamento. Transforma-se o tempo inteiro e exige adaptação constante de quem trabalha com ela.
É preciso conquistá-la. Ouvir sua respiração, interpretar seus desejos.
Tocar sua superfície, entrar em seu interior. Descobrir a colméia. Desconstruir a cavilha, a espiga.
Cortar, serrar, encaixar. Seduzir e ser seduzido.
Por aqui nada de pregos. Não existem simplesmente.
Nem sobras. Tudo se recria.
Pés, braços, articulações, esqueleto. Pedaços quase humanos. Com as partes exigindo formar o todo. A ligação é feita por cada artesão, que tem como missão transformar a madeira em móvel vivo.
Existe uma urgência conceitual das obras em aberto. Elas atraem pela força e fragilidade. Pela capacidade que concentram em suas raízes. Admire de longe ou bem de perto. Meça os ângulos e invente o impossível.
Quantas curvas cabem em um feixe?
É ouro de verdade naquela bancada do Isay Weinfeld?
O que é o quebra-cabeças gigante ali adiante?
Deter-se nos pés da Dinamarquesa de Jorge Zalszupin de cabeça para baixo. Os novos cacos de Etel Carmona formando uma árvore no centro da mesa. A prateleira de referências restaurada de Gregori Warchavchik.
O caminho se faz caminhando, diria o espanhol. Siga o mestre Moacir Tozzo, aquele que sabe das coisas.
Acompanhe suas discussões acaloradas com Etel. Seus abraços também.
Observe os filhos dos marceneiros, que perpetuam o ofício dos pais. Os gestos teatrais dos profissionais retomando seu trabalho. Assumindo suas posições.
Sem pressa, mas com firmeza. Passos certos de quem sabe para onde vai. Geração de talentos formados numa fábrica do outro mundo.
Que escapam pelas covinhas do sorriso do Valdomiro. Para colocar a boca no mundo, contar a história da peça. De preferência por diversas mãos.
Os móveis são um romance e podem levar meses até ficarem prontos.
Nunca saem iguais. Porque vêm de madeiras diferentes.
Com almas distintas. Uma questão de personalidade.
Banco, cadeira, mesa, divã, vaso, sofá.
Será só isso? Seria se não fosse ETEL. Se o aroma da madeira não te arrebatasse, inspirasse. Revirasse suas entranhas de maneira irreversível, visceral. E imprimisse seu DNA à prova do tempo.
Pinceladas de verniz no pé da mesa. Ficou simples? Complique. Abra outro caminho. Obsessão. Ir até o limite para entregar o sem limite.
Sonhe outro sonho. Comece tudo de novo...